MCU Revisitado: Homem de Ferro



Era meu segundo ano de faculdade. Uma época bem diferente da atual. Eu havia ganhado acesso à internet há pouquíssimo tempo. Dá pra imaginar isso hoje? Sabe como eu vi Robert Downey Jr. pela primeira vez? Na extinta revista SET, numa biblioteca. Minha única referência dele era um dueto com o Sting em Every Breath You Take que tocava muito nos programas “dor de cotovelo” que eu ouvia no rádio toda noite na época do colégio. Por algum motivo bizarro, acho que eu confundia Robert Downey Jr. com Cuba Gooding Jr. e, quando vi a foto do Tony Stark na SET, me espantei.


Em abril de 2008 eu tinha 19 anos.


Lembro-me de subir as escadas do cinema correndo pra entrar na sessão, à tarde, em um shopping que agora está perto de fechar. Nunca tinha ouvido falar do Homem de Ferro até ter visto um teaser com aquela cena em que ele é perseguido pelos caças. Devia ter lido umas duas HQs da Marvel em toda minha vida. Olho pra trás e parece que faz uma eternidade. Aconteceu tanta coisa comigo e com o que agora conhecemos como Marvel Cinematic Universe (MCU). Alguém vai ler isto aqui e concluir que nem se lembra de como era a vida antes do MCU. Onde você estava quando Homem de Ferro chegou aos cinemas, há quase 10 anos?


Já estava com esta ideia há muito tempo, mas só nas últimas horas de 2017 resolvi começar a revisitar os filmes da Marvel lançados desde então e escrever algo sobre eles, em forma de crônica, relembrando coisas da época. Assumo que não é uma experiência tão fácil, principalmente no que diz respeito à rotina. Serão quatro meses. Mas, vou me esforçar e espero que você acompanhe.





Tive uma sensação tão esquisita revendo o primeiro filme do Homem de Ferro. Um vazio. Hoje o MCU tem tantos personagens, no cinema e nas séries, que cada filme é um recorte no meio de uma multidão de histórias. Então, você está com seu binóculo virado para Peter Parker de castigo na escola, mas sabe que eles passam vídeos educativos do Capitão América e que, em algum lugar, os Guardiões da Galáxia estão viajando, a Viúva Negra está se escondendo disfarçada, Jessica Jones aceitou um novo caso, e por aí vai. Mas, até os minutos finais de Homem de Ferro, existe apenas aquele pequeno núcleo ali.


Outra coisa é que ele não se parece nada com os filmes do MCU que temos hoje. Agora não me lembro se foi Kevin Feige ou outra pessoa que chamou Homem de Ferro, na época, de filme indie. O humor não é o mesmo (tinha até insinuação de sexo), o clima não é o mesmo. Também existem aqueles detalhes que já entregam a idade. Repare nos celulares, nas projeções do JARVIS na mesa de trabalho do Tony, no figurino, naquela franja da Gwyneth Paltrow.




No mundo atual, em que começamos a nos preocupar com certas questões que antes passavam batidas, alguns detalhes gerariam grandes problematizações. Cito Pepper falando que entre as funções dela estava colocar o lixo (as mulheres com quem Tony passava a noite) pra fora, o fato de ele nem se dignar a se despedir delas, as aeromoças dançando no avião como naqueles clipes dos rappers americanos – ou de funk ostentação, o modo como o herói americano chega para salvar as vítimas dos conflitos no Oriente Médio, etc.


Se você quiser tirar o fator super-heróico, Homem de Ferro ainda é um filme de ação sobre um milionário da indústria bélica, gênio da tecnologia e mecânica, que entra em crise de consciência após ver bem de perto como as criações que, literalmente, levavam sua assinatura, estavam sendo usadas. Será que foi naquela épocas que o míssil entrou no apartamento dos Maximoff em Sokovia, matando os pais e encurralando os pequenos gêmeos por dias?


Entre o preto e o branco, Tony Stark fica naquela área cinza do universo Marvel. Ao longo destes anos, ele alterna momentos de benevolência, egoísmo, dor, fracasso, comédia, tragédia, até uma quase onipresença. Considere herói ou vilão, é preciso reconhecer que é impossível ser indiferente a ele.




Robert Downey Jr., que precisava do filme mais que todo mundo, sonhava que aquele seria o trabalho da sua vida? Os sonhos dele tinham tantos fãs, prestígio e dinheiro quanto ele tem hoje?


Aos 33 anos, Kevin Feige sabia o que estava caindo nas mãos dele após a saída do Avi Arad? Homem de Ferro foi abraçado pela crítica e pelo público (isso em uma época em que a Marvel nem comprava resenhas positivas, como diz a lenda urbana), foi o segundo filme mais visto nos Estados Unidos naquele ano, e até hoje é a nota mais alta do MCU no amado/odiado Rotten Tomatoes. Além disso, é considerado o melhor filme da "saga" por muitas pessoas.

E o compositor Ramin Djawadi, “afilhado” de Hans Zimmer, responsável pela trilha sonora que faz o instrumental lembrar máquinas funcionando? Faltavam poucos anos para ele compor sua obra-prima, reconhecível em qualquer lugar: o tema da série Game of Thrones. Isso sem falar no clássico do Black Sabbath que será para sempre associado ao personagem.

O agente Coulson cutucando o ombro de alguém ao longo do filme insistindo para ter uma reunião era só um aceno da primeira cena pós-créditos do MCU, quando um Nick Fury Samuel L. Jackson aparecia sem aviso na mansão em Malibu pra falar com Tony Stark sobre a Iniciativa Vingadores. Uma sequência todo mundo esperava, já que hoje em dia é impossível pensar em um blockbuster que seja um filme solo, mas, como chegar aos Vingadores? Capitão América, a Vespa, Homem-Formiga, Hulk e Thor apareceriam nos outros filmes do Homem de Ferro? O que viria depois, o modo como esta história foi e ainda vem sendo contada, era algo inédito na história da Sétima Arte. 

FICHA TÉCNICA

Homem de Ferro (Iron Man)
Direção: Jon Favreau
Roteiro: Mark Fergus, Hawk Ostby, Art Marcum, Matt Halloway. Baseado nas obras de Don Heck, Jack Kirby, Stan Lee e Larry Lieber
Elenco: Robert Downey Jr, Gwyneth Paltrow, Jeff Bridges, Clark Gregg, Leslie Bibb, Jon Favreau, Paul Bettany...
Duração: 2h05
Estreia no Brasil: 30 de abril de 2008
Estreia nos EUA: 2 de maio de 2008
Orçamento: US$ 140 milhões
Bilheteria: US$ 585 milhões
Prêmios e indicações: clique aqui
Fonte: IMDB, Box Office Mojo, Wikipédia

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