MCU por uma não fangirl - Você não conhece seus ídolos


“Fama significa milhões de pessoas tendo a ideia errada de quem você é”
, Erica Jong

Sou de outra época.  Fui fã de Backstreet Boys, colecionava revistas do Leonardo Di Caprio – sim, naqueles tempos de Titanic em que ele era sex simbol e não a cara do Jack Nickolson. Desde lá, dos idos anos 1990-2000, penso muito sobre o que significa ser fã de alguém. Em 2013 tive a oportunidade de ver um show com o Anthony Kieds, do Red Hot Chilli Peppers, que  também venceu o vicio e se tornou sóbrio e famoso... te lembra alguém? O show foi bom, mas o Anthony não era aquele que conheci nas entrevistas.

A história do Renner com a Viúva Negra é um exemplo disso. Fica a pergunta. Quem são essas pessoas que amamos tanto do fandom? Quem são eles, mesmo, de verdade?

Se segura na cadeira que eu vou lhe dizer a verdade.

Eles têm chule, bafo, mau humor e alguns, provavelmente, mau caráter. Chris H, Chris E, Scarlett, Mark, Jeremy nada mais são do que produtos da Cultura de Massa, ou, melhor dizendo, da Indústria Cultural.






Calma! Eu não vou começar uma pregação aqui. Nós vamos deixar de lado tudo aquilo que ouvimos no Facebook e vamos entender o que realmente é o conceito de cultura de massa, blza?

Para começar essa parte eu peço que: Pare! 






Pegue no... conceito. 




Indústria Cultural é todo o bem cultural criado em larga escala para consumo amplo. Esses produtos têm o objetivo de atingir a massa popular de forma homogênea. Ou seja, quer atingir quem quer que seja: negro, branco, mulher, homem, velho, novo, hétero, homo, Marvete ou DCnauta...  A disseminação desses produtos é feita pelos meios de comunicação em massa, TV, Internet, rádio... sascoisa. Só pra saber, esse conceito foi desenvolvido por dois alemães: Adorno e Horkheimer.

A Indústria Cultural, segundo os manos, foi capaz de homogeneizar diversas manifestações diferentes, como, por exemplo, a popular e a erudita, a regional e a global. Prova disso é que nós brasileiros conseguimos nos identificar e ser fãs de personagens criados por norte-americanos que não tem noção nenhuma do que é viver em um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.




Depois desses alemães, outro pensador, Edgar Morin, falou umas coisas interessantes sobre a Industrial e os nossos ídolos. Morin afirma que a Indústria Cultural cria produtos definidos, padronizados e prontos para consumo, e que, ao mesmo tempo, ocorre uma segunda industrialização, não apenas de bens, mas também, mais sutil e ardilosa, do pensamento humano. Essa segunda industrialização se introjeta de tal forma que é inevitável consumo de certos objetos. Para ele, tudo é agravado porque a massa não foi educada para não se maravilhar com a avalanche de valores, imagens e símbolos... Então, para a Indústria Cultural, é gol, é tetra, todo mundo ama.


Sinceramente, a Indústria Cultural em si não é um grande problema se você encarar apenas a necessidade que essa Indústria, como qualquer outra, tem de se consolidar, vender mais e prosperar. Qualquer processo de industrialização quer isso. O problema tá, mais uma vez, em criar um mundo homogêneo, em que todo mundo é famoso, lindo e bem sucedido. Na verdade todo mundo aparenta ser isso tudo. É importante ver os pressupostos do Morrinho com ressalvas, ok?







Agora, PARE!!! 




Pegue no Olimpiano.


O conceito que nos interessa mesmo é o de Olimpianos, também definido pelo Morin. Para que a Indústria Cultural se consolide e fortaleça, para que os seus produtos sejam efetivos ela se baseia em diversos mecanismos, um deles são os Olimpianos. Não, não são aqueles deuses que a gente conhece dos filmes da Disney e dos poucos que integram o casting da Marvel Comics.




Resumindo bem, Morin fala que a Indústria Cultural inspira em nós a idolatria de novos deuses, novos olimpianos, e que essa adoração nada tem a ver com o papel religioso que desempenham, mas com o papel que a imprensa e a indústria cultural dá a esses personagens, fazendo com que cada pequena coisinha que se passa com eles atinja caráter de notícia. 

A vida dessas pessoas é de tal forma espetacularizada e eles se tornam exemplos de vida mesmo, muitas vezes, sem terem feito nada para isso. Ou seja, eles são famosos porque nós confundimos pessoa com personagem. Porque a Indústria Cultural faz com que você acredite que eles são estão em algum lugar entre o humano e o divino, bem como aquele cara ali em cima, o Hércules.




Morin aproxima os astros de cinema de olimpianos porque tal como os deuses gregos, eles são super-humanos - dado o papel que desempenham nos filmes e na Indústria Cultural - e humanos - dada a sua vida pessoal que é exaustivamente explorada. Nesse contexto, Bob Júnior com os seus problemas com drogas e Chris E com a sua ansiedade, são bons exemplos de seres que transitam entre os dois mundos, dos homens e dos deuses. 

A imperfeição é necessária no caso dos olimpianos, para que as pessoas possam se identificar com esses seres humanos. E a exploração é feita de tal forma que tudo o que esses indivíduos fazem pode ser justificado e que não reste nenhuma mácula sobre a imagem que projetam.

Trocando em miúdos, os conceitos de Morin se sustentam a partir de duas outras noções, que se aplicam muito bem ao universo cinematográfico. Projeção e identificação. A Indústria Cultural só funciona porque quer ser algo que muitas vezes é inalcançável, isso é projetado nesses personagens. E, ao mesmo tempo, essa projeção só funciona porque nos identificamos com esses seres. Para isso, eles têm que ser humanos, gente como a gente, aparecer bêbado na entrevista e tudo o mais.

E aí?


E aí que nós não conhecemos, nem conheceremos nunca os nossos ídolos em sua totalidade. O que vemos, amamos, nos identificamos com são simulacros, traduzidos e trazidos para nós por meios de comunicação que editam e selecionam o que é mais interessante, aquilo com o qual poderemos ao mesmo tempo nos identificar e desejar.

E tem algum mal nisso? Não se você reconhecer que aquilo que está na sua frente não é o que a pessoa é na verdade. Se você percebe isso, o Jeremy Renner falando mal da Viúva Negra não é tão doloroso. O Tom Hidleston começar a namorar não é tão surpreende, não machuca tanto o coração. Mais uma vez, vou defender que é libertador ver essas pessoas apenas como pessoas. 





Nenhum comentário

Não precisa nem dizer que comentários ofensivos, agressivos, racistas, homofóbicos, spammers, enfim, qualquer conteúdo escroto, será excluído daqui, não é? Então, comporte-se.

ALERTA: os comentários aqui postados não refletem a opinião do blog e são de inteira responsabilidade dos autores dos comentários.

Tecnologia do Blogger.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...